É janeiro, e com ele, 31 anos do naufrágio do Barco Novo Amapá...
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Capa de Jornal noticiando o naufrágio. Foto: Folha Uol |
É
janeiro, e com ele, 31 anos do naufrágio do Barco Novo Amapá...
Quando chega janeiro eu me lembro daquele 6 de janeiro de 1980, quando o Barco Novo Amapá naufragou levando consigo muitas vidas para o fundo do Rio Jarí.
Quando chega janeiro eu me lembro daquele 6 de janeiro de 1980, quando o Barco Novo Amapá naufragou levando consigo muitas vidas para o fundo do Rio Jarí.
Após
as datas comemorativas de fim de ano a "vida voltava à rotina normal", aquela ansiedade
pela espera do brinquedo do “Papai Noel” havia acabado e todos nós, com nossos
brinquedos, brincávamos nos quintais das nossas casas, fazíamos ruas para
brincar com nossos carrinhos, puxados por fios, e a tardinha brincávamos de bola até o sol se pôr.
Assim era a nossa rotina das férias escolares do mês de janeiro, tudo aparentemente
normal como todos os dias normais. Ao acordar no dia seguinte, a notícia já
havia se espalhado por boa parte do Território do Amapá, o naufrágio do Barco
Novo Amapá havia mudado "o clima" daquele dia e dos demais que viriam pela
frente. Apesar de não ter nenhum parente ou conhecido na embarcação o ambiente
era de muita tristeza e comoção, pois se tratava de vidas que se fora naquela noite fatídica. .
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Caixões e caixotes improvisados para colocar os corpos de vítimas da tragédia. |
Em
Fazendinha o assunto diário era o Novo Amapá. Todos estavam ansiosos por
informações reais do acidente já que muitos boatos circulavam pelas
redondezas. Lembro - me que, naquela primeira noite, após o naufrágio, todos nós de
casa sentamos a frente do aparelho televisor a espera do Jornal do Amapá para
acompanharmos os noticiários com informações e imagens do sinistro. Recordo que,
em uma das reportagens, uma embarcação que prestava apoio as vítimas do
naufrágio acabava de atracar no Trapiche Eliezer Levy, trazendo parentes dos passageiros envoltos a choro e dor, e
isso mexeu comigo ao ponto de chorar também. Perguntei a minha mãe o porquê do
Novo Amapá ter afundado e ela toda serena me disse que o Barco tinha sido
pilotado por uma criança que fez com que o mesmo batesse em um banco de areia e
tombado para o fundo do Rio Jarí. E assim foram inúmeros dias a frente da TV acompanhando as informações concretas sobre o triste fato.
Memorial as vítimas do naufrágio no cemitério de Santana. Foto: Santana do Amapá Blogspot |
Após o janeiro,
as aulas começaram e junto com o fevereiro a tragédia que abalou todo o Amapá, e as buscas por corpos continuavam. Eu era aluno do Jardim de Infância e
tinha mais ou menos 7 anos de idade. Em minha escola muitas histórias surgiam sobre o acidente
e as vítimas do Barco, tipo: “Encontraram um dedo de uma
criança dentro de um peixe!”, “Não come
camarão, porque ele comeu pessoas do Barco!”. Todas essas histórias me fizeram
parar de comer peixe e camarão por um longo tempo.
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Corpos de vítimas do acidente expostos na água. Imagem: Diário do Amapá. |
Todas as vezes que
eu passava em frente ao Rio Amazonas, via nele a tristeza em suas águas, até
parecia que aquelas pessoas que estavam no navio e que se foram estavam
chorando por terem partido repentinamente, sem se despedir dos seus familiares e
amigos.
Ainda vejo, em minhas lembranças, aqueles caixões improvisados desembarcando no Porto de Santana com
o que sobrou daqueles pobres mortais, e o pior é lembrar daquelas outras que
não puderam ser identificadas, sendo sepultadas em covas coletivas no cemitério
de Santana onde existe um memorial em sua homenagem.
Relatos vivenciados por uma criança (na época) sobre o triste fim do Barco Novo Amapá.
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